quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O CARÁTER DOS BISPOS (3.1-7)



O Cargo de Bispo (3.1)

Esta é uma palavra fiel: Se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja (1). À primeira vista, a observação com a qual apóstolo inicia esta seção da carta — esta é uma palavra fiel— é igual à declaração dita anteriormente em 1.15: "Esta é uma palavra fiel". Mas a igualdade é meramente aparente. A primeira observação deu início a um ensino muito importante sobre a obra redentora de Cristo. Mas aqui não há tal declaração solene de fé. Ainda que os estudiosos não tenham chegado a um acordo quanto a este ponto, é provável que esta tradução seja a correta: "Há um dito popular que diz: 'Aspirar à liderança é ambição honrosa'" (NEB; cf. AEC, BJ, BV).
A palavra episcopado é um tanto enganosa para os leitores de hoje, porque para nós o cargo de epíscopo ou bispo tem associações eclesiásticas. Desejar este cargo seria buscar promoção no ministério cristão. Estamos devidamente certos em reputar que tal ambição é indigna da pessoa cuja vida é dedicada ao serviço de Cristo. Ressal­tamos o termo "bispo", tradução da palavra grega episkopos,veio origi­nalmente da organização das sociedades seculares e tem o significado básico de "inspetor" ou "líder". O apóstolo está dizendo que é uma ambição digna a pessoa dese­jar um lugar de serviço responsável entre o povo de Deus. A declaração que Paulo cita era um provérbio bem conhecido na época, o qual ele usava como introdução do assun­to que desejava tratar.

Qualificações do Bispo (3.2)

Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigi­lante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar. No total, há 15 qualifica­ções estipuladas pelo apóstolo, sete das quais ocorrem no versículo 2. É importante que a primeiríssima destas seja a irrepreensibilidade. O significado da palavra é "acima de repreensão", "de reputação irrepreensível" (cf. CH), "de caráter impecável", "que nin­guém possa culpar de nada" (NTLH). Por qualquer método que avaliemos, esta é a virtu­de mais inclusiva que aparece na lista. Significa que o líder na igreja de Cristo não pode ter defeito óbvio de caráter e deve ser pessoa de reputação imaculada. Dificilmente se esperaria que não tivesse defeito, mas que fosse sem culpa. É apropriado que o ministro seja julgado por um padrão mais rígido que os membros leigos da igreja. Os leigos podem ser perdoados por defeitos e falhas que seriam totalmente fatais a um ministro. Há cer­tas coisas que um Deus misericordioso perdoa em um homem, mas que a igreja não perdoa no ministério deste. A irrepreensibilidade do candidato é requisito no qual deve­mos ser insistentes hoje em dia, como o foi Paulo no século I.
O líder da igreja deve ser exemplar especialmente em assuntos relativos a sexo. Este é o destaque da segunda estipulação do apóstolo: Marido de uma mulher (2). Trata-se de precaução contra a poligamia, que gerava um problema sério para a igreja cujos membros eram ganhos para Cristo vindos de um paganismo que tolerava aberta­mente casamentos plurais. Em todo quesito que a igreja com seus altos padrões éticos relativos a casamento confrontar o paganismo de nossos dias, em regiões incivilizadas ou não, a insistência cristã na pureza deve ser enunciada de forma clara e seguida com todo o rigor.
Mas temos de perguntar: A intenção de Paulo era desaprovar o segundo casamento? Alguns dos manuscritos antigos requerem a tradução "casado apenas uma vez" (confor­me nota de rodapé na NEB). "Sobre este assunto, como em muitos outros", comenta Kelly, "a atitude que vigorava na antigüidade difere notadamente da que prevalece em grande parte dos círculos de hoje. Existem evidências abundantes provenientes da lite­ratura e inscrições funerárias, tanto gentias quanto judaicas, que permanecer solteiro depois da morte do cônjuge ou depois do divórcio era considerado meritório, ao passo que casar-se outra vez era visto como sinal de satisfação excessiva dos próprios desejos". É óbvio que em alguns segmentos da igreja primitiva esta era a opinião prevalente, che­gando ao extremo último da ordem de um ministério celibatário.
Mas esta não é a interpretação do ensino de Paulo que prevalece hoje. É bem conhecida sua própria preferência da vida solteira em comparação ao estado casado; e há passagens nos seus escritos em que ele recomenda este estado aos outros (e.g., 1 Co 7.39,40). Talvez o melhor resumo da intenção do apóstolo para os nossos dias seja a declaração de E. F. Scott: "O bispo tem de dar exemplo de moralidade rígida".
As próximas três especificações — vigilante, sóbrio, honesto (2) — têm relação próxima entre si e descrevem a vida cristã ordeira. Moffatt traduz estas qualidades pe­las palavras: "temperado [NVI; cf. RA], mestre de si, calmo". A temperança neste contex­to transmite a idéia de autocontrole (cf. CH) ou autodisciplina.
O próximo quesito qualificador é apresentado pelo apóstolo na palavra descritiva hospitaleiro (2). Esta mesma característica é mais detalhada em Tito 1.8: "Dado à hospitalidade, amigo do bem". Nesses primeiros dias da igreja, esta era uma virtude muito importante. Havia poucos albergues no mundo do século I, e os apóstolos e evangelistas cristãos que eram enviados de lugar em lugar ficavam dependentes da hospitalidade de cristãos que tivessem um "quarto de profeta", mantido com a finalidade de atender essas necessidades. Em nossos dias de hotéis, expressamos nossa hospitalidade cristã de modo diferente. Mas quando a igreja era jovem, essa hospitalidade era extremamente primor­dial. O dever e privilégio de ministrá-la recaíam naturalmente sobre o bispo ou pastor. O espírito essencial do ato é tão importante hoje como era outrora.
Igualmente essencial e até mais importante é a sétima qualidade que Paulo menci­ona: Apto para ensinar (2). Pelo visto, nem todos os pastores eram empregados no ministério de ensino. É o que mostra 5.17: "Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada honra, principalmente os que trabalham na palavra e na doutrina". Mas a aptidão para ensinar era rendimento certo para o ministro cristão. Era importante então como é hoje. Sempre haverá indivíduos que possuem maior capa­cidade nesta ou naquela área que outros, mas certa habilidade para ensinar é de extre­ma necessidade ao ministério completo e frutífero.

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